Afetos e Desejos no Neoliberalismo: Ignoródio, Amor ao Igual e Ódio ao Diferente - parte 08

 





No contexto contemporâneo marcado pelo neoliberalismo e suas estratégias de dominação, as ideias de ignoródio, amor ao igual, ódio ao diferente, e a manipulação dos desejos e afetos se entrelaçam de maneira complexa, moldando não apenas a política e a economia, mas também a própria subjetividade dos indivíduos. Esses conceitos revelam como as dinâmicas sociais são influenciadas pela manipulação ideológica e pela construção de narrativas que servem aos interesses de uma minoria poderosa em detrimento da maioria.

A noção de ignoródio, termo que combina ignorância e ódio, descreve a condição na qual indivíduos, frequentemente manipulados por estratégias de idiosubjetivação, desenvolvem uma aversão ao diferente enquanto se agrupam em torno daquilo que lhes é semelhante. Esse fenômeno é potencializado pela simplificação da linguagem e pela disseminação de discursos que não apenas evitam a complexidade, mas que a negam, tornando-a indesejável e mesmo perigosa. Dessa forma, a diversidade de pensamento é vista não como enriquecedora, mas como uma ameaça à estabilidade do status quo neoliberal.

Freud, ao explorar o conceito de amor ao igual e ódio ao diferente, destacou como a rejeição do outro pode levar não apenas à intolerância, mas à violência física e psicológica. No contexto contemporâneo, essa dinâmica se traduz na polarização política, onde grupos se fecham em bolhas informativas que reforçam suas crenças e desencorajam qualquer forma de diálogo construtivo. A paranoia em relação ao diferente é cultivada como estratégia de manutenção do poder, levando a uma fragmentação social que enfraquece a resistência coletiva contra as injustiças.

A eliminação do diferente, mencionada como consequência da idiosubjetivação no contexto neoliberal, não se limita apenas à exclusão física, mas também à marginalização simbólica e social. Indivíduos e grupos que desafiam as normas estabelecidas são estigmatizados e silenciados, perpetuando assim um ambiente onde a diversidade de ideias é vista como desvio perigoso. Essa dinâmica é evidenciada na ascensão de movimentos autoritários que procuram suprimir minorias étnicas, religiosas, ou qualquer grupo que represente uma ameaça à ordem estabelecida.

O anti-intelectualismo e a valorização da ignorância são peças-chave na estratégia neoliberal de perpetuação do poder. Ao desacreditar o conhecimento especializado e as instituições que o promovem, como universidades e meios de comunicação independentes, os agentes do neoliberalismo podem manipular facilmente a percepção pública e desacreditar qualquer crítica fundamentada. Isso fortalece a neurose coletiva e cria um ambiente propício para líderes populistas que se apresentam como antiestablishment, mesmo quando defendem políticas que beneficiam as elites econômicas.

A análise de Dany-Robert Dufour sobre o consumo não apenas de corpos, mas também de espíritos pelo capitalismo neoliberal, ressalta como a lógica de mercado penetra profundamente na vida cotidiana e na subjetividade dos indivíduos. A instrumentalização do ser humano como mero consumidor não apenas fragmenta a sociedade, mas também esvazia os valores tradicionais de solidariedade e justiça social. Nesse contexto, a virada pós-moderna se caracteriza pela dessimbolização, onde conceitos fundamentais como dignidade humana e liberdade são reduzidos a commodities que podem ser compradas e vendidas no mercado global.

A obsolescência das explicações modernas, como observado por Adorno e outros críticos sociais, revela um desafio profundo à própria ideia de progresso humano. Enquanto a modernidade buscava um mundo baseado na razão, na justiça e no respeito aos direitos individuais, o neoliberalismo transforma esses ideais em obstáculos ao crescimento econômico e ao lucro desenfreado. Assim, a ascensão de um sistema que valoriza a competição desenfreada, o individualismo exacerbado e a mercantilização de todos os aspectos da vida humana marca uma ruptura radical com o projeto iluminista e suas promessas de emancipação e igualdade.

Em síntese, as interações entre ignoródio, amor ao igual, ódio ao diferente, e a manipulação dos desejos e afetos iluminam um cenário contemporâneo onde a fragmentação social e a desigualdade são não apenas perpetuadas, mas também ampliadas. Através da idiosubjetivação, o neoliberalismo molda não apenas as estruturas econômicas e políticas, mas também as subjetividades individuais, reforçando um ciclo de dominação e exploração que ameaça os fundamentos da democracia e da justiça social. Enquanto a resistência a essas dinâmicas pode emergir através da conscientização crítica e da solidariedade coletiva, a luta contra o status quo neoliberal requer uma análise profunda das estratégias de manipulação e uma vontade renovada de promover uma sociedade baseada em valores humanos genuínos e na busca por um bem comum verdadeiramente inclusivo.

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