Dessimbolização e Política: Desafios à Democracia Contemporânea - parte 09







A dessimbolização, termo que descreve a perda dos símbolos e limites que estruturam a vida social e psíquica, tem profundas implicações na política e na formação da vontade política dos indivíduos. Ao diminuir os limites e aumentar a liberdade acrítica, ela transforma a maneira como os indivíduos se posicionam e se engajam nas manifestações políticas, inclusive na tomada de decisão durante o voto. Esse fenômeno é potencializado pela idiosubjetivação, processo no qual a linguagem é esvaziada de significados compartilhados e distorce a percepção da realidade política. Os eleitores são influenciados a votar de acordo com um imaginário egoísta e desinformado, que não considera as consequências coletivas das escolhas individuais.

A relativização das leis é outra consequência da dessimbolização, onde normas que antes regulavam o comportamento social são agora questionadas ou ignoradas. As pessoas tendem a agir como se não houvesse limites externos, substituindo-os por interpretações subjetivas e imaginárias das normas sociais e legais. Esse fenômeno reflete um contexto em que avanços tecnológicos e a ideologia capitalista promovem a crença de que tudo é possível, exacerbando o desejo ilimitado por lucro e acumulação de capital, muitas vezes sem considerar implicações éticas ou morais.

A mudança na economia psíquica, mencionada na transição do sujeito neurótico para o sujeito psicótico ou perverso, indica uma alteração na forma como os indivíduos internalizam e respondem às normas sociais e éticas. Essa mudança abre espaço para um "estilo paranoico", onde a desconfiança e a violação de limites se tornam predominantes, impactando profundamente a vida democrática. A foraclusão do Nome-do-Pai, conceito lacaniano que representa a não internalização das normas edipianas que estruturam a autoridade e os limites na sociedade, contribui para a formação de indivíduos que não reconhecem limites impostos por terceiros, o que pode minar a base da democracia ao enfraquecer a capacidade de aceitar e respeitar regras comuns.

O retorno do foracluído, termo que descreve o retorno do que foi excluído internamente como delírios ou alucinações, é visível na política contemporânea. Eleitores dessimbolizados frequentemente manifestam votos baseados em versões parciais da realidade, substituindo a verdade objetiva por convicções pessoais distorcidas. Isso molda suas ações políticas e paixões, afetando não apenas o processo democrático, mas também a coesão social e a capacidade de construir consensos baseados em fatos e princípios compartilhados.

Em suma, a dessimbolização e seus efeitos sobre a posição dos indivíduos na sociedade contemporânea revelam um desafio profundo à democracia e à estabilidade social. A perda de limites e a relativização das normas sociais e legais podem minar os fundamentos éticos e morais que sustentam uma sociedade justa e igualitária, abrindo espaço para formas de governança que privilegiam interesses individuais sobre o bem comum e que desconsideram os princípios de responsabilidade e solidariedade coletiva.

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