O Lado Sombrio dos Algoritmos: Quando a Busca por Engajamento Promove a Desinformação




As redes sociais surgiram com a promessa de conectar pessoas ao redor do mundo, promover o diálogo e democratizar o acesso à informação. No entanto, ao longo do tempo, ficou evidente que essas plataformas, apesar das boas intenções iniciais, possuem falhas estruturais que as tornam ferramentas poderosas para a disseminação da desinformação e o fomento ao extremismo. Um exemplo claro dessa problemática é o movimento antivacina, que ganhou força e visibilidade nas redes, exacerbado pelos algoritmos que priorizam o engajamento acima de tudo.

As principais plataformas de redes sociais, como Facebook e YouTube, têm como principal objetivo manter os usuários engajados pelo maior tempo possível. O "engajamento" se tornou a métrica de sucesso dessas empresas, que buscam maximizar o tempo de permanência dos usuários em suas plataformas. Para alcançar esse objetivo, os algoritmos que governam essas redes são programados para recomendar conteúdos que gerem mais interação, independentemente de sua qualidade ou veracidade.

Essa lógica de funcionamento acaba criando um ciclo vicioso: conteúdos que provocam reações fortes – como medo, raiva ou choque – tendem a gerar mais comentários, compartilhamentos e curtidas. Como resultado, esses conteúdos são impulsionados pelos algoritmos, alcançando um público ainda maior. Assim, mesmo que uma postagem contenha informações falsas ou distorcidas, ela pode se espalhar rapidamente e se tornar viral.

Renée DiResta, uma pesquisadora que estuda o impacto das redes sociais na desinformação, percebeu que os sistemas automatizados dessas plataformas são desenhados para promover exatamente esse tipo de conteúdo. "As plataformas sociais traziam à tona todo conteúdo que seus sistemas automatizados concluíssem que ia maximizar a movimentação dos usuários na internet", destacou DiResta. Essa dinâmica, ao invés de promover um debate saudável e informado, acaba incentivando a proliferação de teorias da conspiração e extremismo.

Ao priorizar o engajamento, os algoritmos das redes sociais não apenas propagam a desinformação, mas também criam bolhas informacionais que isolam os usuários em mundos paralelos de falsas verdades. Nessas bolhas, as vozes extremistas encontram eco e são amplificadas, resultando na radicalização de indivíduos que, de outra forma, poderiam ter opiniões moderadas.

O movimento antivacina é um exemplo claro desse fenômeno. Embora os antivacinistas representem uma minoria, seu alcance e influência foram drasticamente ampliados pelas redes sociais. Renée DiResta, ao investigar o movimento, descobriu que, mesmo quando usuários buscavam informações pró-vacinação, as plataformas frequentemente lhes recomendavam conteúdos antivacina. "DiResta sabia que, se estivesse certa, o Facebook não vinha só satisfazendo os extremistas antivacinação. Estava criando os extremistas."

Essa manipulação algorítmica é particularmente perigosa quando se trata de questões de saúde pública. A vacinação, que já salvou milhões de vidas ao longo da história, passou a ser vista com desconfiança por uma parcela significativa da população, influenciada por informações falsas e teorias da conspiração disseminadas online. DiResta relatou que, ao buscar informações sobre vacinação nas redes sociais, quase todo o conteúdo que lhe era recomendado era antivacina, criando uma realidade virtual distorcida. "Era como se as opiniões pró-vacina da sua região na vida real estivessem invertidas na internet."

O problema da desinformação nas redes sociais não se limita à questão da vacinação. Ele permeia diversas áreas da sociedade, afetando desde debates políticos até questões sociais e culturais. A amplificação de conteúdos extremistas pode polarizar ainda mais a sociedade, minar a confiança nas instituições e criar divisões profundas entre grupos com diferentes visões de mundo.

A pesquisadora levantou uma preocupação crucial ao refletir sobre os impactos mais amplos desse fenômeno: "E se esse era o efeito em uma coisa pequena, como diretrizes para vacinação em escolas ou discussões sobre videogame, o que aconteceria se chegasse na política ou na sociedade de modo mais amplo?" A resposta a essa pergunta é preocupante, pois sugere que as redes sociais, em sua busca por maximizar o engajamento, podem estar corroendo os alicerces da sociedade civil ao fomentar divisões e extremismos.
 
As redes sociais, criadas para conectar pessoas e disseminar informações, estão, na verdade, fomentando a desinformação e criando extremistas. A busca incessante por engajamento, sem levar em consideração a veracidade ou o impacto social das informações compartilhadas, está tendo consequências devastadoras para a sociedade.

A ferramenta de recomendação, que "ficava impulsionando, impulsionando, impulsionando" conteúdos potencialmente nocivos, precisa ser reavaliada. As plataformas devem assumir a responsabilidade pelo conteúdo que promovem e buscar formas de equilibrar o engajamento com a disseminação de informações verdadeiras e úteis.

O caso do movimento antivacina é apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior. As redes sociais, ao priorizarem o engajamento acima da veracidade, estão se tornando máquinas do caos, capazes de disseminar desinformação em escala global e de criar extremistas a partir de indivíduos comuns. É imperativo que as plataformas repensem seus algoritmos e busquem formas de mitigar esses efeitos, antes que o impacto da desinformação se torne ainda mais profundo e irreversível.

Para além das soluções tecnológicas, é necessário promover a alfabetização midiática e a educação crítica para que os usuários sejam capazes de identificar e questionar as informações que consomem online. Somente assim poderemos enfrentar o desafio da desinformação e construir uma sociedade mais informada, justa e resiliente.

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