O Ciclo de Concentração de Riqueza e Poder no Agronegócio Brasileiro
O Brasil é frequentemente associado à força do agronegócio, mas essa narrativa é mais complexa do que parece. A ideia de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é impulsionado exclusivamente pelo setor agropecuário ignora outros componentes importantes da economia nacional, como o petróleo e a mineração, que têm desempenhado um papel significativo no crescimento econômico. Embora o agronegócio, especialmente a produção de soja e carne, seja relevante, há muitas nuances e consequências que precisam ser discutidas.
Para começar, é importante entender o destino da produção agrícola brasileira. Grande parte do que é produzido no país é voltado para a exportação. Essa exportação, amparada pela Lei Kandir, é isenta de impostos, o que gera uma distorção na economia. Se por um lado a exportação de commodities gera riqueza, por outro lado, esse lucro é acumulado nas mãos de grandes proprietários de terra, enquanto os pequenos produtores, que são responsáveis por colocar comida na mesa dos brasileiros, enfrentam uma situação bem mais complicada.
O agronegócio brasileiro é cada vez mais mecanizado e automatizado, o que significa que emprega cada vez menos pessoas. Isso cria um ciclo em que grandes proprietários acumulam terras e riqueza, enquanto pequenos agricultores são pressionados a vender suas propriedades, acabando por trabalhar para os grandes ou migrando para as cidades em busca de oportunidades. Essa migração para as cidades, por sua vez, aumenta a pressão sobre os centros urbanos, onde o desemprego é uma realidade crescente.
O impacto dessa dinâmica vai além do campo. A concentração de terras e de riqueza no agronegócio também se reflete no aumento do poder político desses grandes empresários. Com mais dinheiro e influência, eles conseguem eleger representantes que defendem seus interesses, perpetuando um ciclo de desigualdade. Esse poder político consolidado reforça a atuação de grandes latifundiários, que têm cada vez mais facilidade em manter o controle das atividades econômicas e políticas do país.
Enquanto isso, o pequeno produtor, que não tem acesso ao crédito fácil e enfrenta uma carga tributária mais pesada, encontra cada vez mais dificuldades para se manter no campo. A produção agrícola que alimenta a população brasileira é deixada em segundo plano em relação às commodities voltadas para o mercado externo. Além disso, a geração de empregos no setor tem diminuído, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais no país.
Outro ponto crucial dessa discussão é a falta de arrecadação de impostos sobre as exportações agrícolas. Enquanto as commodities são exportadas sem tributação, os pequenos produtores e a população em geral são sobrecarregados por impostos, criando uma situação de injustiça fiscal. Assim, o agronegócio contribui para o PIB, mas não gera emprego suficiente, nem arrecadação de impostos significativa para o desenvolvimento do país.
Essa espiral de concentração de terras, riqueza e poder político alimenta um cenário de difícil reversão. A cada eleição, os grandes proprietários conseguem eleger mais representantes, ampliando seu controle sobre as decisões políticas do país. Isso leva a um círculo vicioso: mais poder político gera mais lucros, e mais lucros ampliam ainda mais o poder político. Como resultado, o otimismo sobre o futuro econômico e social do Brasil se torna difícil de sustentar, já que os interesses concentrados continuam a ditar os rumos do país.
Portanto, a ideia de que o agronegócio é o principal motor do PIB brasileiro precisa ser revisada. Embora seja um setor importante, os benefícios que ele traz à economia são desigualmente distribuídos, e as consequências dessa dinâmica afetam negativamente a população, especialmente os pequenos agricultores e as classes trabalhadoras. O Brasil enfrenta o desafio de reequilibrar sua economia, de forma a garantir que a riqueza gerada pelo campo seja mais bem distribuída, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e equitativo de todo o país.
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